“Coisa de Mãe” | Nilda

Gostou? Compartilhe!

Hoje falamos com a Nilda Medeiros, mãe de 3, com idades de 13, 12 e 4 anos. Ela é Bibliotecária da Universidade Estadual da Paraíba em Campina Grande porém reside em João Pessoa, casada com o Sensei Márcio Medeiros. Ela nos contará um pouco sobre como ela faz para organizar uma família de 5 pessoas e ainda trabalhar em outra cidade, conciliando tudo isso com o Kendo.

Eu pratico Kendo. Sempre que me perguntam a quanto tempo pratico kendo, e não sei bem que contas eu faço realmente, rsrrsrs, tive contato com o kendo em 2002 quando acompanhava meu namorado aos treinos, depois que casamos em 2004 iniciei realmente os treinos de kendo, mas em 2005 engravidei e tive meu primeiro filho, daí tive que dar um tempo no kendo; depois veio a minha filha que nasceu em 2007, novamente dei um tempo no kendo apenas ia treinar esporadicamente quando eu conseguia deixá-los com alguém. Só consegui voltar a ter regularidade em 2008, e no pique total apenas em 2011. Já em 2014 veio meu caçula, daí o tempo de retorno aos treinos foi rápido,  afinal eu estava com 37 anos e queria continuar os treinos para poder me graduar no kendo. Meus filhos mais velhos foram fundamentais nesse retorno imediato, e ajudaram e ainda ajudam bastante com o pequeno. Então as contas de quanto tempo realmente eu treino kendo ficam por conta de quem acaba sabendo da história, rsrsrs. Eu treino 3 vezes por semana, 2 vezes em Campina Grande com o grupo de extensão da Coordenadoria de Esporte e Lazer da UEPB (segundas e quartas), onde colaboro como senpai do grupo e representante do kendo na instituição universitária da COEL,  o sensei Márcio Medeiros (4º dan) é o sensei técnico responsável em Campina Grande. E aos sábados o treino acontece no UNIPÊ com o AKJP. O sábado é o treino mais longo e acaba sendo o mais cansativo, porém um dos mais agradáveis pois revejo muitos amigos que já treinam há muitos anos. Ahhhh, na UFPB em João Pessoa, também existe um projeto de extensão universitária onde os treinos ocorrem terças e quintas, daí quando estou nesses dias em João Pessoa, aproveito também para treinar com os shoshinshas realizar esse intercâmbio de treino técnico com o sensei Márcio e depois replicar em Campina Grande.

Sua família pratica também? Quais artes vocês praticam? Qual o grau de vocês? Vocês praticam juntos? Como é a rotina de vocês?

Sim praticamos, eu sou 3º dan, meu marido é 4º dan (sensei Márcio Medeiros), meus mais velhos praticam, mas confesso que é uma dificuldade às vezes a encruzilhada kendo versus computador, tirá-los de casa para treinar.  O pequenino de 04 anos, acaba acompanhando e vai criando empatia com o shinai, o kendo. Praticamente passo a semana um pouco ausente deles, pois trabalho distante de João Pessoa e o Márcio tenta suprir minha distância, sendo um pai bem presente. Eles geralmente nos seguem nos treinos do sábado e desejamos que eles continuem no caminho do kendo.

Como começou o interesse da sua família por artes marciais? Qual o impacto do Kendo na sua vida e de sua família? Você aconselha que mães e filhos treinem juntos? Você acredita que o kendo pode ajudar numa boa formação para crianças?

Família Medeiros

Meu pai era treinador físico da Polícia Militar em João Pessoa, e lutava luta livre antes que eu nascesse e ainda depois por um tempo, então a convivência com a atividade física era constante, aos 06 anos fiz por um tempo judo, e aos 24 anos também por um curto tempo Aikido, mas foi ao conhecer o kendo que entendi o que realmente queria me dedicar, Cá pra nós, as projeções que existiam nas outras artes marciais me incomodavam, rsrsrs. Meu marido desde pequeno desejava praticar arte marcial, primeiro foi o karate, o judo, mas foi aos 20 anos que ele conheceu o kendo, e de lá pra cá, nossos filhos cresceram nesse meio do kendo. Não sei dizer se foi devido ao kendo, mas confesso que eles são ótimos filhos, e mesmo durante as advertências e broncas que damos como os pais têm que fazer às vezes, eles sempre aceitam e acabam entendendo que não é algo que estamos fazendo por fazer, mas porque não fizeram o que seria o correto por parte deles fazer. Eles tem  tido comportamento exemplar entre colegas. Certa vez na escola me contaram que o melhor amigo dele deu um soco nele, e ele não reagiu contra o amigo. Ao chegar em casa eu quis saber o relato dele sobre o acontecido, ele disse que se aproximou do amigo depois e o amigo estava chorando com medo, o amigo confessou que tinha entendido mal um acontecimento e por isso havia batido nele, além disso estava chorando pensando que o meu filho ia contar a todos o que aconteceu, mas meu filho teve uma postura de entendimento e conversa, não enveredou na raiva, então nesse momento percebi que ele estava aprendendo a discernir o outro e a si mesmo, e saber como lidar com a agressividade do outro e talvez a dele próprio. Aconselho sim treinar kendo é necessário o auto-conhecimento. No início quando eles tinham 06 anos, eles encaravam com certa leveza e brincadeira os treinos de kendo, algo lúdico; entretanto entre os 10 e 11 anos, algum treino mais intenso ou pesado, eu via o choro ou irritabilidade deles, pois confundiam minha imagem de mãe e estar gritando (kiai) durante os treino e aos golpes (keiko). Hoje eles estão mais tranquilos, me veem como senpai, mas quando sentem alguma dor durante o treino, ainda choram, tadinhos. Mas faz parte do treinando de um espírito vigoroso e na condução da disciplina que o kendo acaba nos trazendo.

Durante a gravidez, você já treinava? Se sim, como foi? Se não, você fazia algum esporte ou atividade física?

Sim, mas cada gravidez foi peculiar. A primeira eu treinei até os 05 meses, eu sentia que com vigor físico com 27 anos, caminhava muito também na época. Na segunda gravidez, meu filho tinha 06 meses de idade, e eu treinei até os 03 meses, pois a primeira gravidez era ainda tão recente e minha pressão arterial estava alterada. A terceira e última gravidez o cenário era outro, eu estava mais velha, com 37 anos e a pressão arterial começou a ficar alta já no 5º quinto mês, então eu fui diminuindo o ritmo de treino. Também continuei sendo senpai em Campina Grande até o 6º mês de gravidez e posteriormente após não estar mais viajando para os treino em Campina e me propus a ajudar meu marido em João Pessoa ainda no início da extensão de Kendo no UNIPÊ, na época estava com 8 meses, com direito a sankyo e kiai, rsrrsrrs, mas os treinos realmente eu já não treinava mais. O meu pequeno ouviu kiai no ventre até não querer mais.

Como vocês fazem para balancear a rotina da família, trabalho e estudo com a prática de artes marciais?

Ahhhhh, então complicado, com os primeiros filhos eu ainda estava na universidade quando eles nasceram, eu e o Márcio tivemos que abdicar de nossas vontades várias vezes, pra tentar conciliar o ofício de sermos pais. Como o  Márcio era sensei do dojo, eu quase sempre ficava com as crianças. Em determinadas épocas do ano conseguíamos contratar cuidadoras pra ficar com as crianças quando íamos a Universidade, trabalho e kendo, mas quase sempre, eu que ficava com eles. Em 2011, o meu filho mais velho já tinha 06 anos e minha filha tinha 04 anos e nos acompanhavam nos treinos, e quando eu ia a estudar na Universidade meu pai ficava com eles a noite. A casa quando eu chegava só estava de pé, e todos vivos, rssrs, imagine só!! E como já mencionei antes meu filho mais novo, nasceu em uma época em que seus irmãos já podiam me ajudar com eles quando o levava aos treinos. E quando eu passei no concurso para trabalhar em Campina Grande, o Márcio me deu o esteio e o apoio que nossa família precisava no momento. E foi assim que fomos nos ajudando ao longo dos anos.

Quais são os objetivos de vocês dentro do Kendo? Você tem expectativas para os seus filhos dentro das artes marciais?

Já tive muitas expectativas pra eles no kendo, hoje tenho esperanças, nem sempre o que desejamos acontece, ou acontece de imediato. Nosso dojo em João Pessoa, não haviam crianças treinando quando meus filhos ainda eram pequenos, então o treino não foi encarado por eles como algo divertido, eu imagino isso! Ainda a procrastinação em treinar as vezes devido o computador, foi distanciando-os um pouco dos treinos. Há algumas semanas atrás ele foram percebendo a falta do treino na parte física deles, e voltaram com mais vontade. Eu no afã de uma mãe que criou expectativa, desejava que meu filho mais velho já tivesse tentado tirar graduação, mas não aconteceu. Então, vou aguardando o tempo deles, que os anos de contato como kendo traga discernimento a eles. E que ajude-os a serem pessoas melhores.

Você poderia dividir conosco algumas dicas de como vocês fazem para manter o dia a dia corrido funcionar?

“Sério? Eu já ia perguntar isso a alguma mãe, rsrrrsrs. Para que as coisas funcionem na minha casa, tomamos uma atitude desde 2015, a palavra de ordem foi planejamento. Tenho que deixar muita coisa encaminhada nos finais de semana para que seja rápido e fácil a vida de todos. Sério! Comida congelada e por aí vai. É no fim de semana que concentramos as principais organizações da casa, uma das últimas ações que realizamos foi imprimir um quadro, um tipo de plano semanal do que devem estudar, das tarefas da semana e as prioridades que não podem esquecer de forma alguma. Estamos torcendo que a rotina crie hábito e disciplina, e todos estão estudando em um único horário na escola, antes o pequeno de 04 anos estudava em horário diferente dos outros, mudamos tudo e ele já se adequou ao novo horário e ficou melhor pro meu marido organizar todos irem para a aula. “

Vocês participam de competições? Como são os preparativos para esses dias?

Eu e meu marido sim participamos de competições, meu filho mais velho participou apenas uma única vez. Quando as competições são a nível local, acordar cedo é fundamental, depois disso é um corre corre sem parar para prepará-los e assim poderem nos acompanhar. O bicho pega quando as competições são em outro estado do Nordeste, pois a logística é exigente, rsrrss. Tomar anotações de hotéis e pousadas, se fica próximo ao local do evento. Fazer um levantamento de tudo que acho que iram precisar e realizar um check list um dia antes da viagem. Já viajamos e alguma das crianças ficou doente, imagine só!! Sim imprevistos ocorrem! Ufffa. Eu e o Márcio já viajamos sem nossos filhos para São Paulo para participar de eventos de kendo, e mesmo com toda a descrição da logística que relatei a vocês, quando estamos longe deles, a saudade é uma constante. Não existe fórmulas ou tutorias de como proceder, os horizontes vão apontando e vamos tentando acertar, conciliar as demandas de sermos pais e mães, trabalhadores, homens, mulheres como qualquer outra pessoa. Mas a decisão e a sinceridade de acertar é grande.

Comments

Comentários:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *